Como Gustave le Bon via os guias das massas.
«A partir do momento em que um determinado número de seres vivos está reunido, quer se trate de um rebanho de animais ou de uma massa de homens, coloca-se instintivamente sob a autoridade de um chefe, ou seja, de um guia.
Nas massas humanas, o guia desempenha um papel considerável. A sua vontade é o núcleo em tomo do qual se formam e se identificam as opiniões. A massa é um rebanho que não conseguiria passar sem um mestre.
Acontece muitas vezes o guia ter sido primeiramente alguém que foi conduzido e que ficou hipnotizado pela ideia da qual mais tarde se tomou defensor. Essa ideia invadiu-o a ponto de tudo o que se encontra à sua volta desaparecer, e de toda a opinião contrária lhe parecer erro e superstição.
Os guias não são, a maior parte das vezes, homens de pensamento mas sim homens de acção. São pouco clarividentes, e nem poderiam sê-lo, uma vez que a clarividência conduz normalmente à dúvida e à inacção. Recrutam-se sobretudo no seio desses neuróticos, desses excitados, desses semi-alienados que roçam as fronteiras da loucura. Por mais absurda que seja a ideia que eles defendem ou o objectivo que prosseguem, todo o tipo de raciocínio se embota face à sua convicção. O desprezo e as perseguições não fazem mais do que excitá-los ainda mais. Interesse pessoal, família, tudo é sacrificado. Para eles, até o próprio instinto de conservação se anula, a ponto de, frequentemente, apenas reclamarem como única recompensa o martírio. A intensidade da fé confere às suas palavras uma grande força sugestiva. A multidão ouve sempre o homem dotado de uma vontade forte. Os indivíduos que se encontram no seio de uma massa perdem toda a vontade, voltando-se instintivamente para quem possui uma.»
Psicologia das Massas, pp. 119-120